RELEMBRANDO

OS SHOWS SERTANEJOS

O ex presidente Paulo Volk conta que o senhor Claudino Weber, seu avô, dirigiu o clube de 1939 a 1941. Juntamente com a diretoria, publicou um edital de concorrência para arrendamento da copa. Os interessados apresentavam as suas propostas, por escrito, em envelope fechado, entregue ao presidente. Naquela época foi escolhido o Sr. Guilherme Dal Ri, que oferecia muitas vantagens. “A Recreio fez parte da minha adolescência, frequento o clube desde os 13, 14 anos. Vivíamos um resquício da ditadura em uma sociedade um tanto fechada”, diz.

 

“As festas aconteciam na sacada do clube. Ali era o nosso domingo de avant premier da juventude de Gramado. O Domingo era o dia mais esperado. Começava pelas 16h e ia até às 22h. Além de Raul Belgander, Ney Lisboa, Os Batucas, Os Lenheiros , havia música eletrônica. Dj, em toca disco Phillips de abrir a tampa e rolar som no vinil. Era o auge das músicas americanas. Bee Gees, Beatles e samba patie. Havia muitas brigas, entre Gramadenses e Canelenses, já que eles vinham para cá namorar as gurias de Gramado, a gente ficava com ciúmes, e quando a gente ia pros bailes em Canela, acontecia a mesma coisa. Então, ora apanhava lá, ora apanhava aqui, ora surrava lá e ora surrava aqui. Mas mesmo assim, o clube era um local que tinha um controle rígido das famílias, da sociedade, da diretoria e dos estatutos.  Em 74, 75, 76, se dançava juntinho, mas afastado. Não podia abraçar muito, tinha que ter respeito. Nos bailes tradicionais a noite, era mais complicado arranjar uma namorada, pois eram bailes mais de família e as meninas vinham acompanhadas dos pais, então, difícil se aproximar. No carnaval era um pouco mais solto, mais liberal. Os carnavais, na minha adolescência proporcionaram muitas paqueras. Normalmente acontecia assim: as gurias ficavam circulando, dançando no salão e a gente ficava parado. Quando rolava interesse, a gente colocava a mão no obro e começava a dançar junto, rodando pelo salão. A regra era clara: se a guria deixava ficar com a mão no obro seguia sambando junto. Se elas saía fora, tirava a mão, tinha que deixar a moça seguir sozinha. Então voltava e continuava ali, pescando até encontrar uma namoradinha” recorda.

“Tenho várias lembranças de Bailes de Debutantes, era quando víamos as flores surgirem. Aquelas gurias que estavam presas em casa, eram apresentadas a sociedade. Foi num baile de Debut que comecei a namorar a Neka que foi minha esposa durante 30 anos”, lembra. Conta que durante a sua gestão os bailes de debutantes começaram a ficar ultrapassados, pois havia uma tendência de as meninas ganharem passagens para a Disney, no lugar de debutarem ou fazerem festa de 15 anos. Comportamentos tradicionais sendo substituídos. 

 

 

Aos 29 anos quando assumiu a diretoria da Recreio desde. 1989 até 1993, conta que “o clube vinha se apagando, de certa forma, conservador demais para aquela época. Eu como representante da juventude, entendi que a Recreio não oferecia mais atrativos para os jovens. Bailes de Carnaval permaneciam. Baile de Reveillon, e Baile do Chopp, Baile de Debutantes já não faziam muito sucesso. O clube não tinha mais muita receita. Era o momento das eleições diretas no Brasil, 1988. Ano de movimento político muito importante na história do país, nova constituição. Houve grandes mudanças no comportamento da sociedade”, lembra. 

 

 

Junto com uma turma de amigos, a idéia era resgatar a alma do clube. “Para fazer caixa decidimos trazer shows. A dependência do clube era pequena, então pedimos o pavilhão da Prefeitura. Eu como gosto muito de sertanejo, optei por trazer o “Chitãozinho e Xororó”. Show inédito em Gramado, junto com “Os Atuais”, que era um baita conjunto. O resultado foi fantástico e esse show motivou outros shows”, lembra. Promoveram um jantar baile com a cantora Rosana, e organizaram show também com “Teodoro e Sampaio” e Mercedes Sosa, todos com sucesso absoluto.

Mas clube realmente estava envelhecendo. “O desafio de transformar o clube velho em um clube novo, e não apenas trazer uma gurizada nova para tocar pois os frequentadores eram bolonistas e o jogadores de carteado. Investimos uma parte dos resultados destes eventos em pinos automáticos de bolão, com recolhedor automático de pino. Nos enganamos, pois o Bolão estava morrendo e iniciando a era do Boliche nas boates” diz.

 

 

Em 1994 com apoio de grande parte do empresariado Gramadense, seu amigo Alemir Coletto o substituiu na presidência e iniciou a grande reforma necessária. “Ele conseguiu manter o aspecto arquitetônico, com a preservação do passado do clube, mas modernizando. O fato de poder ter contribuído com esta história me deixa muito honrado. É uma doação pessoal, para a sociedade, legado, sujeito a críticas e sujeito a aplausos. Sinto saudades de como tudo isso foi construído. Se é possível sonhar e é possível realizar” conclui.

 

 

 

 

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