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CADERNO DE MEDIDAS

Rita Gil, artista consagrada há 35 anos por obras em pintura, desenho, escultura, gravura, colagens, arte têxtil e outras várias formas de expressão artística.  Em sua trajetória, 24 exposições individuais e inúmeras coletivas nacionais e internacionais. Natural de Gramado, nossa cidade é sua maior inspiração.



Rita com a mãe, Dona Lourdes Gil

Sua mãe Dona Lourdes Gil, desenvolveu a alta costura dos anos 60 a 90, em Gramado, com muito estilo. “Quando encontrei os moldes e nomes das clientes, visitei o passado das jovens gramadenses e a memória que está ligada à nossa amada Recreio”, conta Rita. O profundo e demorado mergulho nos cadernos de medidas e os pequenos retalhos guardados pela modista da época, abriram as portas para uma incrível viagem no tempo e na vida social gramadense. “Recosntruindo aquela época de anos dourados, cruzei o caderno de medidas da minha mãe com depoimentos, fotos, jornais da época e modelos desenhados especialmente para cada data. Algumas amigas que ainda tinham os vestidos de gala feitos por ela me emprestaram para a ocasião. Percebi que todas as peças eram cuidadosamente costuradas para que cada cliente em especial vivesse um momento incrível. Após dois anos de pesquisa, consegui mostrar isso para meus amigos em uma grande exposição chamada ‘Caderno de Medidas’, em 2018”.




Esta exposição proporcionou o encontro emocionado de memórias queridas. “Estudei, recortei e costurei pequenos fragmentos do cotidiano daquelas mulheres fortes que se tornaram ícones vestindo roupas exclusivas da "grife" Lourdes Gil”.


 

Entre tantos vestidos glamourosos, conta que as faixas de Rainhas coroadas na Recreio, desde a primeira que foi pintada, todas foram feitas por sua mãe. “Faixas em cetins rosa, branco e azul com letras bordadas em feltro enfeitadas com pedrinhas coloridas que eu ajudava a pregar. Adorava o momento de produção das Rainhas”, comenta. “Tive a oportunidade de conhecer a primeira faixa pintada por minha mãe, na casa da Dona Iraci há alguns anos atrás quando pintei a coroação dela na Recreio".





“Relaciono o Caderno de Medidas com minha própria identidade na Recreio”. Para o projeto, conta que pesquisou o acervo que restou do incêndio da Recreio e entrevistou todas as clientes que ainda estão entre nós que, com a maior boa vontade recordaram episódios e momentos felizes. “Mandaram fotos e o curioso foi que em todas elas, o cenário era a Recreio. Em uma foto, lembrei que fui manequim para um grande desfile de moda. Muitas gavetinhas abriram-se libertando belas lembranças”.

 

 




Sobre os bailes de carnaval infantil, conta que não faltava um. “Adorava as serpentinas coloridas, os confetes e sempre trazia um pacote para casa e fazia outro carnaval. Certa vez, minha tia foi a um baile de carnaval e me presenteou com um artefato carnavalesco, uma lanterna japonesa feita de papel de seda colorido que enfeitava as mesas quando eu tinha uns 7 anos. Lembro que eu abria e fechava com muita delicadeza. Encantada, o tenho até hoje comigo pois assim se guardam momentos. Outro ano ela trouxe uma latinha verde que aspergia perfume e confetes”.

 


 

"Quando iniciei o ballet, as aulas eram no antigo Banco do Comércio, onde depois foi a loja do Sr. Osmildo e hoje um centro comercial. No final do ano de 1961 nos apresentamos na Recreio Gramadense. Foi um sucesso, a primeira apresentação das pequenas bailarinas!"

 


Mais tarde, adolescente, “aos 14 fui ao meu primeiro caranaval noturno com toda a turma, de umas dez meninas, usando vestidos poás de vermelho e branco. A diversão era correr em volta do salão à noite inteira. Também esperávamos a entrada dos blocos com a maior ansiedade. Blocos de fora com rapazes fantasiados, que para nós, pareciam príncipes. Os forasteiros eram recepcionados pelos gramadenses dos Monarcas, Velhinhos e Pra que Dinheiro. Encerrávamos a noite com a música: Esta chegando a hora o dia já vem raiando meu bem...”. Como tantos de sua geração, lembrou-se da Boate da Recreio no andar superior, onde se encontrava o mezanino. “Os embalos de sábado à noite eram todos nesta boate, ninguém tinha dúvidas! Nos anos 70, domingos de tarde tinha matiné... momento ilário na danceteria onde os pré-adolescentes se encontravam e tomavam coca cola”.



Quando completou 15 anos, conta que Dona Lourdes perguntou a ela se queria festa ou debut e rapidamente respondeu: “Quero debutar na Recreio! Antes do grande dia,  tivemos aulas de etiqueta com Dona Célia Ribeiro. Livro na cabeça, passos com um pé na frente do outro e muito mais! Sempre acompanhadas da Sílvia, atenta aos eventos sociais. Na ocasião entreguei um ramalhete a nossa orientadora Dona Célia”.




“Meu vestido foi o último a ficar pronto, pois minha mãe tinha oito para entregar. Minha entrada oficial para Sociedade foi uma noite inesquecível. Fomos maquiadas e penteadas pela Bernardete. Saímos de uma carruagem enfeitada como princesas para dançar a primeira valsa”.


Rita e Dona Lourdes são memórias vivas da nossa sociedade.  “Lembro do globo multifacetado de espelhos que ficava no centro do salão, era mágico! Todas as referências sobre festas, bailes e apresentações foram na Sociedade. Quase não se falava a Recreio, mas sim a Sociedade... hoje tem baile na Sociedade”!

 

  

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